“Somos escravos da nossa própria falta de atitude”. (Gabriel Pensador)
Para o evento comemorativo dos dois anos de Michel Temer na presidência, o cerimonial do Palácio do Planalto expediu convites com o slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”.
O tema parafraseava o plano de metas do ex-presidente Juscelino Kubitschek, que prometia 50 anos de progresso em 5 de governo. Mas obviamente que foi um tiro no pé porque, sem a vírgula após o verbo, diz que o país regrediu duas décadas sob a gestão de Temer.
A verdade é que Temer é o anti JK, inverteu o lema de Juscelino – para cada ano de governo dez anos de retrocesso. Como, alias, eu tinha previsto quando afirmei que o documento Uma ponte para o futuro, espécie de carta de princípios de Temer e seu grupo, na realidade era uma pinguela para o atraso.
Também em artigo denunciei que desde que tomou posse, Temer começou a promover um desmonte de políticas públicas estruturantes e adotou uma política econômica recessiva. Ela aprofundou os erros que já haviam sido cometidos pela presidente Dilma.
Sob Temer, o Brasil caminha para trás. Ele promoveu o desmonte de programas sociais, aprovou o congelamento dos investimentos públicos por 20 anos, permitiu a aprovação do projeto do senador Jose Serra que abriu o pré-sal aos estrangeiros, fez uma reforma trabalhista que penaliza os trabalhadores.
A jornalista Tereza Cruvinel foi precisa em seu blog no Jornal do Brasil quando escreveu que “na área social, difícil dizer de quantos anos foi o retrocesso, mas, pelo menos em relação à mortalidade infantil, pode-se afirmar que foi de 13 anos, período em que o indicador caiu continuamente, para voltar a crescer agora. Há pouco, Temer anunciou um aumento para o Bolsa Família mas não disse que isso foi possível porque o governo economizou a verba do programa, dele cortando quase um milhão de famílias.
Programas como o Ciência Sem Fronteira e o Pronatec acabaram. A Farmácia Popular tem tido pontos de entrega reduzidos. O Minha Casa, Minha Vida encolheu, especialmente na faixa de menor renda”.
Não há o que comemorar nesses dois anos. Nathalie Beghin, coordenadora da assessoria política do Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc, escreveu um artigo muito interessante sobre os retrocessos no desgoverno Temer.
Entre eles, destaca o acirramento da desigualdade. “Um excelente indicador para dimensionar esse fenômeno é a concentração da riqueza. Segundo a Oxfam, o número de super-ricos que se apropriam de riqueza equivalente à metade mais pobre da população brasileira passou de seis para cinco entre 2016 e 2017. E mais: em 2017, o país ganhou mais 12 bilionários, que agora somam 43 pessoas. A fortuna desses super-ricos chega a US$ 549 bilhões, ou 43,52% da riqueza do país. Enquanto isso, a metade mais pobre da população brasileira detinha apenas 2% da riqueza nacional, menos do que os 2,7% de 2016. Em resumo: as medidas recessivas do governo Temer atingem somente os mais pobres, pois os mais abastados só fazem aumentar seu patrimônio em plena recessão econômica”.
Ela também destaca o aumento da pobreza e da miséria. “O número de pessoas em situação de extrema pobreza no país passou de 13,3 milhões para cerca de 14,8 milhões entre 2016 e 2017, o que representa um aumento de mais de 11%. E mais: o aumento da pobreza é generalizado, pois aconteceu em todas as regiões do país. Esse empobrecimento se explica, em grande parte, pela queda real do valor do salário mínimo e pelo aumento do desemprego e do trabalho informal”.
Em seu discurso comemorativo, Temer destacou os resultados positivos da economia. No dia seguinte, o Banco Central divulgou o índice de atividade econômica (IBC-Br), espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB), que encolheu 0,74% em março. De acordo com o índice, a economia fecha o primeiro trimestre do ano com retração de 0,13% em relação aos três últimos meses do ano passado.
Na sexta-feira, o IBGE divulgou que aumentou o número de jovens que nem estudam nem trabalham, na comparação de 2017 com 2016. A parcela da população de 15 a 29 anos que não estava empregada nem estudava cresceu de 21,8% do total, em 2016, para 23,0%, no ano passado. De um ano para o outro, houve um aumento de 5,9% nesse contingente, o que equivale a mais 619 mil pessoas nessa condição, 0,13% em relação aos três últimos meses do ano passado.
Só na cadeia produtiva que deriva da Petrobras já perdemos 1 milhão de empregos, é verdade que nesse caso com uma grande ajuda da operação lava jato nos seus efeitos colaterais.
As projeções econômicas otimistas se desmancham no ar. Infelizmente, o slogan de Temer é aquele sem a vírgula: O Brasil voltou 20 anos em 2!
Em tempo: a gasolina nos EUA baixa para 52 centavos o litro, o menor valor em sete anos, enquanto isso no Brasil o preço subiu 25% em 45 dias, e numa conversão direta está custando USD 1,13 (R$ 4,25). Cadê os paneleiros?
Boa Semana! Paz e Bem!
*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB . Escreve sobre Poder e Governo.